sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Santa Chuva (by Nati)

Pela cor do céu já era de se notar que a tempestade não faria ainda muito suspense naquela tarde abafada. Pelas calçadas as pessoas já apertavam o passo para correr da chuva. O vento já bagunçava os detalhes meticulosamente construídos nas aparências dos pedestres de das construções. Cinco minutos antes da tempestade, o céu já prometia desabar sobre aquelas cabeças tão ocupadas que fugiam, como se a desordem que a água pudesse trazer ameaçasse o perfeito cumprimento dos seus importantíssimos deveres.

As passadas dos meus pés, cada vez mais, zombavam da pressa alheia e o ritmo marcado pelo ruído dos saltos traduzia, agora, cadências mais frouxas. O atraso do meu andar era, em parte, motivado por um sentimento de superioridade que me distanciava daquelas pobres pessoas-formigas e, em parte, por um desejo latente de ser vítima indefesa daquela tempestade.

Tive certa inveja do ladrilho da calçada que ganhou a primeira gota da chuva, inveja que durou pouco, pois, logo, o vento tratou de espalhar minúsculas gotículas por toda a parte. Guarda-chuvas brotaram dos mais diversos cantos e, apesar de colorirem a cena cinza, esconderam os rostos daqueles corpos tensos que teimavam em fugir da água.

O barulho descompassado da chuva sobre a cidade foi o som que embalou o meu prazer ao sentir as primeiras gotas geladas deslizarem sobre a minha pele seca. Prazer esse que não veio do arrepio frio que percorreu todo o corpo, mas que nasceu da simples percepção de que esse corpo ainda pode se arrepiar. Agradeci o vento fresco que despenteou meus cabelos desordenando a pretensiosa imagem de controle, a qual eu dedico preciosos momentos das minhas manhãs. Por alguns segundos, andei na chuva permitindo que ela causasse em mim qualquer dano que lhe coubesse, assim mesmo, só pelo prazer de me entregar como vítima daquilo que todos fugiam. Só para deixar que ela bagunçasse o quanto lhe conviesse o que havia por fora e por dentro de mim.

Porém, também a chuva mostrou sinais de humanidade quando, de forma traiçoeira, começou a minguar. As gotas ficaram cada vez mais finas e leves, o céu começou a clarear, e o barulho cessou. Os guarda-chuvas sumiram, os rostos reapareceram e as rotas foram pouco a pouco sendo retomadas. A minha caminhada também tinha alcançado sua conclusão. Subi os degraus do prédio de escritórios e, só quando me deparei com o espelho do elevador é que percebi o desalinho de minha aparência. Porém, não me ajeitei. Quis carregar comigo as marcas que aquela santa chuva tinha deixado em mim.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os Humores da Ostra (by Nati)

Ontem, após ouvir uma longa coleção de elogios sobre o seu último texto postado, a Ana justificou o seu sucesso com uma máxima que ultimamente tem sido bastante familiar ao nosso grupo: “ostras infelizes produzem pérolas”. A frase causou uma inquietação grande o suficiente para me levar a encontrar tempo para escrever esse texto. Saliento que essa metáfora das ostras já não me era novidade, porém, nas outras ocasiões em que ela fora invocada sempre assumiu o caráter de desculpa para não produzir nada de genial, mas nunca a sua versão oposta havia sido usada para justificar um sucesso.
A causa maior que me inquietou (e que continua a me inquietar) é o fato de eu não conseguir refutar a veracidade da teoria que existe por trás da metáfora das ostras. Durante um bom tempo da minha vida eu busquei o significado da palavra “arte”, uma parcela dessa busca foi motivada por uma equivocada escolha profissional (tema para um outro texto), outra parcela – talvez a maior – foi motivada por uma curiosidade bastante íntima. O resultado desse estudo me levou a uma aporia, a qual a minha pouca experiência intelectual não foi capaz de entender. Entretanto, restou-me uma impressão bastante pessoal de que o que define o caráter artístico de uma obra é justamente a emoção do artista no momento de sua criação. Atente para o fato de que eu não estou me referindo ao juízo de valor feito a partir de determinada obra de arte, eu estou apenas colocando o que, na minha opinião, difere o que é arte do que não é arte.
Creio que a essa altura você já tenha se convencido de que eu concordo com a teoria das ostras, portanto, agora vou explicar o motivo pelo qual essa verdade me incomoda.
Eu vivi durante mais de cinco anos espremendo sofrimento para produzir algo de “artístico”, buscava a “arte” nascida do esforço, do suor de da dor., eu queria aquele tom melancólico-poético dos artistas que criam obras fantásticas à sua própria revelia. Fui um fracasso. Atualmente, eu adotei uma nova concepção de vida, a qual me faz bastante feliz, porém, continuo a apreciar com especial preferência a arte dos infelizes. Logo, se eu me convencer facilmente de que a máxima “ostras felizes não fazem pérolas” conjuga uma verdade, então estarei admitindo que meu destino “artístico” está fadado às miçangas. Injustiça! É esta a fonte de tamanha inquietação perante a justificativa dada pela Ana. Talvez, a minha única saída seja esforçar-me para calcular friamente a medida da felicidade desta ostra aqui para, só então, atirar-me ao exercício de compor meus textos. Tento tomar como exemplo a disciplina de Stendhal apresentada em sua confissão:

“Esforço-me o máximo possível para ser seco. Quero impor silêncio ao meu coração, que acredita ter muito a dizer. Sempre temo só ter escrito um suspiro quando creio ter registrado uma verdade”.

O problema é que adaptar os humores da ostra, calcular a relevância de um texto e ponderar filosoficamente sobre as proposições abordadas é um tarefa extremamente chata !!! Portanto, peço licença aos leitores (todos eles: Ana e Ju) para informar que os meus textos são composições de suspiros e miçangas, e que ninguém espere pérolas dessa ostra aqui...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Por que Deus criou a Jaca? (by Ana)

Puxa vida, a jaca é enorme e nasce em árvore. Isso não está certo. Não sei o que deu errado, mas não é justo com a árvore. Além do mais, ela pesa, incomoda os galhos e causa inveja nas folhas, já que ninguém repara nelas quando há uma jaca pendurada ao lado.
Por que Deus a inventou? - Acho que ele estava cansado, já tinha criado quase tudo, mas olhou para o lado e viu um vazio, um espaço ao lado do pé de morango. Resolveu, então criar uma fruta grande só pra contrastar. Mas como já tinha sido coerente com a melancia, colocando-a ao chão, resolveu pendurar a nova fruta no alto.
O passo seguinte seria dar um nome àquela aberração. Ele olhou pensativo... Não tinha idéia de que nome dar. Já tinha feito tantas coisas naquele 6 dia de criação do mundo, estava cansado, desanimado, mas ao mesmo tempo intrigado com a árvore que criara. Mas olhou de novo e viu a “frutona” desabar. Nervoso, soltou seu desabafo:
- JÁ CAiu! Preciso reforçar esse galho.
O trabalho da reforma da obra o deixou mais cansado ainda. Estava numa verdadeira sinuca... Precisava dar um nome à última fruta, pra poder descansar. Foi aí que Deus, abdicando por um instante de sua perfeição decidiu que não quebraria mais a cabeça:
- Que seja a JACA!

Índio Tacanho (by Ju)

1.De pequena estatura. 2. V. avaro. 3. Sem largueza de vistas; estreito.


No meio das tabas
Cercada de troncos
Índio Tacanho
Dos Tamoios

Tica estatura
Estreita traquéia
Tosse constante
Fadiga irritante

De tribo dos fortes
Tacanho (in)destaque
Quando tudo é tenaz
Tacanho é todo terno

É tímido e tem tudo
para ser poeta
com vistas sem extensão
Nem tenta, só teme

Tacanho, portanto
É tanto quanto seu nome
Petico, intruso,
Temeroso e tímido

Tacanho é mulher
No meio dos maus...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tacanho (by Ana)

TACANHO
1.De pequena estatura. 2. V. avaro. 3. Sem largueza de vistas; estreito.

Era uma professora de português, ela era gorda, feia, chata e tinha um humor nem sempre compreendido. Vale ressaltar que ela dava aula para uma turma de primeiro colegial. Criançada cheia de energia, que não parava quieta e também não dava muita importância para aquela mulher.
Ela, então, perguntava: “ O que vocês acharam do novo teatro da cidade?” (ou outra pergunta do gênero).
A resposta que vinha era sempre a mesma: “ Ah! Professora, ele é LEGAL.”
Ela então, toda cheia de si, só porque tinha estudado numa excelente universidade, tinha mestrado, doutorado e blábláblá em língua portuguesa, soltava o:
“ LEGAL é aquilo que está dentro da Lei.” - E sempre remendava: “O vocabulário de vocês é TACANHO, ainda há muito o que aprender, e é uma vergonha que estudantes do primeiro colegial, do melhor colégio da cidade não tenham outro adjetivo para definir sua resposta do que o pobre LEGAL.”
Demorou, mas conseguimos entender que tacanho era pequeno, insignificante, fraco demais.
Eu confesso que ainda não sei que outro adjetivo usaria para definir a minha resposta. O meu vocabulário ainda é pobre. Mas o que nunca mais esqueci e até acabei colocando em prática foi o tal do TACANHO. Vira e mexe ele aparece, nas mais diversas situações.
Hoje mesmo ele apitou na minha cabeça. Eu discutia com a Juliana sobre um certo professor, cujo conhecimento eu considero... Eu considero... Como é mesmo a palavra?... TACANHO.
- Hem? O que você disse?
- Tacanho... Pequeno, insignificante, fraco. Entendeu?
- Ah! Sim. LEGAL, gostei.

Mas aquele adjetivo... Eu ainda não encontrei. Melhor continuar recolhida à minha TUTAMÉIA.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Confissão (by Ju)

A melodia desta música e tudo
Que há de mais poético
Faz-me querer um amar - ser amante
Que confunde. Confesso

O sabor desse vinho e tudo
Que há de mais doce
Faz-me querer futuro amor – paixão passada
Que confunde. Confesso

A melancolia poética das minhas dicotomias e tudo
Que há de mais reflexivo
Faz-me querer parar – finalmente achar
Sentido nas coisas...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

TANGO (By Ju)



O lumiar diminui
O sanfoneiro treme
A cor-batom sangrando
A saia soluçando
O agudo machuca
O grave contrai
A lembrança é a mais
A razão se desfaz

O sem posição
O som tão sonoro
A mão tão vazia
A paixão não esfria
O vinho é pouco
O chão flutua
A vontade é grande
A quentura constante

O acabar vem - sinto
A felicidade vai - minto

acaba
lateja
acaba bem

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Por que "Minha Cozinha Tá Uma Zona"? (By Ju)

Eu bem que poderia alegar que a minha demora para escrever a explicação do nome deste blog fora proposital: deixar os leitores curiosos - não fosse a falta de leitores (só eu, a Simone e a Ana entramos aqui) e a minha cara-de-pau que seria descarada. Bom, queria pedir desculpas pela demora. Mas a vida anda corrida e eu ando muito feliz para me inspirar e escrever textos melhores (depois escrevo o porquê desse comentário sobre escrever melhor quando se sente dor). Porém, de fato, eu preciso justificar o nome que escolhemos para dar ao blog.

A explicação é fundamental. Eu contava ao meu pai sobre este blog e o nome que nós demos a ele e o Sr. Berger achou um absurdo. A pessoa mais prática e “sem nove horas” do mundo (meu pai) disse que esse nome poderia proporcionar uma compreensão ruim ao meu respeito, à medida que os leitores poderiam concluir que, de fato, a minha cozinha está uma zona, que eu sou uma menina relaxada e coisa e tal. Comecei, então, a pensar nessa possibilidade, porque há necessidade de se fazer um marketing pessoal mesmo quando se escreve besteiras. E, portanto, ao justificar o nome “minhacozinhataumazona.blogspot.com” eu, só por ter que ser bem lógica (não vai ser fácil explicar) já faria uma boa propaganda de mim mesma. Além disso, eu deixaria bem explicado que eu sou uma menina bastante organizada e disciplinada (perguntem pra Simone e Aline!) e, que, portanto, minha cozinha NÃO está uma zona.
E outra justificativa para a explicação: esse nome soa meio coisa de gente sem noção que quer aparecer sendo alternativo demais. E a última coisa que eu quero parecer neste mundo cyber é uma pessoa tentando ser “alternativa” demais, uma vez que a proposta desse blog é escrever sobre banalidades mesmo, no seu sentido estrito, ou seja, escrever sobre coisas comuns, não alternativas, sendo nós mesmas...
Bom, explicarei palavra por palavra:

Por que MINHA?
Porque o fato dela ser minha (nossa) é bem relevante. Afinal, serão NOSSAS idéias reunidas – como já foi dito, a proposta é cada uma escrever do seu jeito e a sua opinião sobre um tema banal previamente escolhido.
Bom, isso significa dizer que só entrará na nossa cozinha quem quiser deparar com nossas idéias, nossa construção e, talvez, nossa idéia zoneada, nossa gororoba (eu tinha que fazer alusão a alguma comida – ruim). E, por ser falta de educação entrar na cozinha alheia e criticar o modo de como o dono produz suas criações, você, leitor, não tem o direito de reclamar das nossas idéias. Tem o direito, sim, de comentar (aliás, dever) elogiando ou não sendo tão cruel. Afinal, nunca lhe disseram que sinceridade demais é falta de educação? Hehehe

Por que COZINHA?
Poderia ser banheiro, não poderia? Afinal, as mulheres vão ao banheiro juntas e trocam várias idéias lá e tal. Seria uma analogia bem boa não fosse tão comum. Eu acho que já até deve existir um blog chamado “meubanheirotaumazona”. Mulheres indo juntas ao banheiro é uma coisa universal. Mas a cozinha é NOSSA...
NÓS gostamos da COZINHA porque é lá que se faz comida: adoramos comer (existe mulher que não goste?) e dar de comer (por essa coisa de mulher que toda mulher tem: vaidade e emoção de sobra– “sempre existirão mulheres” Simone de Beauvoir). Assim como escrever: adoramos escrever e adoramos que nos leiam porque somos vaidosas e emotivas. A analogia não pára por aí, inúmeras autoras importantes já refletiram sobre o tema:

Para Laura Esquivel, a comida, o saber e o prazer estão unidos dentro da criação literária e é preciso recuperar tanto a cozinha como a expressão artística como um espaço de conhecimento em que se recrie a vida e a arte. Rosario Ferré, por sua vez, diz, que no fim das contas, tenha ou não a literatura das mulheres suas especificidades, escrever bem, como cozinhar, depende da sabedoria com que se combinam os ingredientes. Essas analogias feitas sobre o ato de escrever com o ato de cozinhar serve para compreendam a genialidade da Ana ao sugerir a “cozinha”: é na cozinha que as mulheres (e não há como negar – é fato, é proveniente de processo histórico), primeiramente, se afirmaram como mulheres (no “sentido Simone de Beauvoir” do termo) criadoras. E é por isso, que misturando ingredientes (nossas idéias) procuraremos recriar a nossa arte de escrever.

Por que ZONA?
Zona tem vários significados.
À primeira vista, o termo “zona” do nosso título quer dizer “bagunça”, “desorganização”. E isso é cabível a nossa proposta tão martelada neste texto explicativo que redijo. Por não termos planos e metas, a coisa toda fica uma bagunça: um monte de idéias, assim, jogadas e, portanto, bagunçadas e desorganizadas.
Entretanto, “zona” também significa “Local onde mulheres oferecem serviços sexuais”. Bom... hahahaha. Brincadeirinha...

*

O que eu queria dizer com todas essas explicações é o seguinte: a cozinha é um lugar bacana onde nós vamos procurar prazer (de comer). O ato de escrever é procurar prazer mesmo que o texto saia uma droga. O fato de a cozinha está uma zona com nossas criações, quer dizer que por não nos importarmos com uma metodologia forçada (que não é própria de meninas da nossa idade que fazem blogs por fazer – como nós), procuramos uma troca de sabedoria e experiências simples (já percebeu que as comidas mais simples e feitas sem tanta pressão e/ou planejamento são as mais gostosas? Não?! O que me diz que brigadeiro ao invés de doce de damasco? O que me diz daquele bolo com uma lata de leite condensado "acidentalmente" colocado a mais?). E é isso!

“Quando os membros de uma família fazem regularmente sua refeição juntos [na cozinha], eles não estão apenas se alimentando, mas também criando e reforçando atitudes e expectativas pessoais" (Margaret Visser)

Por que "Minha Cozinha Tá Uma Zona"? (By Nati)

Eu sempre achei que a cozinha é muito mais do que apenas um cômodo de uma casa, é nela onde as intimidades da vivência particular se guardam até que estejam prontas para serem expostas. Mesmo essa exposição da qual eu falo é uma exposição restrita: visitas estranhas à minha casa não são recebidas na cozinha, apenas pessoas para as quais eu sou capaz de revelar a minha intimidade é que são bem vindas nos bastidores da minha casa.
A cozinha, se observada com atenção, pode ser entendida como um vitrine que expõe detalhes extremamente pessoais da sua personalidade. Suas escolhas, suas preferências, suas exigências, seus vícios, seus pecados, suas gulas, seus méritos e suas vaidades ficam todos estrategicamente posicionados na geladeira e nos armários, os quais, secretamente, julgam as nossas fraquezas com aquela frieza típica dos tons neutros.
Parece-me conveniente analisar o significado deste cômodo também pelo viés funcional que lhe cabe: a cozinha, mais do que qualquer outro ambiente da casa, apresenta, de forma bastante clara, as marcas da rotina dos moradores. Os ciclos diários, a repetição das mesmas atividades, as quantidades, as qualidades. Isso é tão verdade que no meio musical é chamada de cozinha aquela porção da banda que fica responsável por toda a parte de percussão, ou seja, também aqui recai sobre a cozinha a função de dar o ritmo à música.
Eu disse tudo isso para que você possa ter idéia da dimensão que a frase “a minha cozinha tá uma zona” tem para mim. E nessa fase da minha vida, passados momentos de muito trabalho e de muita concentração eu me encontro meio que num vácuo de propósitos (também conhecido como falta de coisa melhor para pensar) que me faz dizer em alto e bom som: MINHA COZINHA TÁ UMA ZONA!!!Mas não pense que esse descompasso todo me assusta. Pelo contrário, às vésperas de completar 25 aninhos eu tenho o orgulho em dizer que eu não tenho mais medo das confusões pelas quais a minha alma pode passar. Agora eu entendo que todas elas são necessárias e que eu aprendo muito mais com o meu descompasso, e é por isso que eu aceitei (com um prazer enorme) escrever aqui sobre as bagunças da minha cozinha. Espero agradar os eventuais leitores (será que alguém vai ler?). . .

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Por que "Minha Cozinha Tá Uma Zona"?

A história da origem do nome



Eu moro sozinha em São Paulo. Para muitos isso é a pior coisa do mundo, um convite à depressão e ao suicídio. Pra mim não. Sou sozinha e sou feliz, apesar de às vezes ligar a TV só pra ouvir vozes (isso não vem ao caso). Acontece que por ser sozinha, todos os dias tenho um garfo, uma faca e um prato pra lavar. Por ser pouco, sempre deixo o trabalho duro pra depois da janta. Almoço, deixo tudo na pia e lavo depois que acaba “A Favorita” hehe.

Bom, na terça passada, a Gi veio almoçar em casa... Usamos ao todo dois pratos, dois garfos e duas facas. Depois, a tarde, cheguei em casa com fome e usei mais um prato e uma faca pra comer maçã. E, de noite, fiz a salvação dos que moram sozinhos: o Miojo! Tudo acabado, larguei tudo na pia e fui ver a novela... Acabada a novela, engatei um Casseta e Paneta e depois dei uma olhada na MTV... Resumindo: eu tava morrendo de preguiça de lavar a bendita louça. Podia não fazê-lo, mas meu instinto de organização não permitiria... A louça ia se acumular... Eu teria de lavar, mais cedo ou mais tarde.

Entrei na cozinha pedindo ajuda à Deus, olhei pra pia e pensei comigo: “Putz, minha cozinha ta uma zona!” na mesma hora me veio à cabeça que esse poderia ser um bom nome pra um blog, site ou qualquer coisa assim, afinal de contas essas coisas na internet tem sempre nomes esquisitos...

Parece transmissão de pensamento. No dia seguinte, durante a aula de IPT, Juliana veio me contar que tinha feito um blog. Nascia aí o “Minha cozinha tá uma zona”.

Tá, eu sei que essa história é tosca, e sinto muito por não ser uma coisa superinteressante e inesquecível, mas é a verdade... E a verdade às vezes é besta.

A Ju ainda deu uma filosofada sobre os sentidos que a gente poderia dar à cozinha, tipo: se a cozinha tá uma zona, na verdade a vida estaria também... Coisas difíceis que deixo pra ela explicar melhor.

Tá feito, na próxima vez prometo contar algo mais interessante.

Beijo

Su

sábado, 9 de agosto de 2008

Vezes Dois (By Ju)

Antes, por fim
Por ter sido assim (pior)
cansada
patética
amável
perto longe
TU me fazias amar

Agora, enfim,
Por ser assim (melhor)
cansada
patética
amável
longe perto
VOCÊ me faz gozar

(tantas)
Vezes
(nós)
Dois

Cactos e Flores (By Ju)


Isso tudo é uma mistura de um monte de vontade de recomeçar a escrever, um monte de besteiras que me vieram à mente nesses últimos dias e uma melancolia filha da puta que Casillero me traz.

Bom, eu estava pensando aqui comigo sobre a banalidade (ou não) do tema desta postagem: se Rubem Alves (não que eu pudesse me comparar a ele, mas poderia comparar a minha justificativa para escrever com a dele - essa é a questão) escreveu um livro chamado “Ostra Feliz Não Faz Pedras”, cujo tema é “não ter tema e escrever todas as pequenas idéias que lhe vêm à mente” – e é muito bom por sinal -, por que eu não posso falar sobre cactos e flores?

Até porque há uma lógica muito boa em escrever sobre cactos e flores. E uma lógica muito boa em escrever tudo que lhe vêm...

Tudo começou quando Aline recebeu um cacto de presente do Guilherme. Um cacto. Um cacto parece ser frio, à primeira vista, como a palavra “cacto”, já percebeu? É como se quando a garganta soltasse o “ca”, ela ficasse com nojo e quisesse terminar logo a palavra com “to”, mas o “qui” ( c ) do meio era pra dar um charme de pretendente a burguês. Assim. Cacto é uma coisa bem metida. Ele fica lá todo se achando o bom porque não tem as mesmas necessidades das outras plantas, bebe menos água, tem aquela postura ereta e coisa e tal. E outra: presentear alguém com o cacto é uma coisa bem pretensiosa, visto que quando se presenteia alguém você não deve pensar em si próprio (se bem que eu adoro presentear...), mas sim na satisfação do receptor. E as pessoas "normais" se encantam mais, à primeira vista, com presentes comuns. Além disso, ao dar um cacto, uma coisa tão, digamos, extravagante, eu arriscaria que o presenteador quisesse chamar a atenção da sociedade...basicamente. Pensei: “Por que não um chocolatinho em forma de coração”?

Mas isso tudo é senso comum.

Eu andei pensando... Por que as flores simbolizam coisas tão boas, meigas, etc? Porque sua beleza é fugaz. Ela morre rápido. Pegamos um amor-admiração a ela e logo ela morre e sofremos um bocado. O amor-admiração é explosivo (justamente por ser fugaz) e, por isso, nos aparenta tãaaaao bom ,meigo, etc. É legal presentear alguém com flores. É um gesto que se fosse falado seria “grandiloqüente”. Sinal de que temos amor-admiração grande por aquela pessoa e queremos demonstrar isso para o mundo (gente, um buquê de flores é grande, vai...), além de sua (das flores) beleza nos remeter uma certa idéia de sensualidade (e tudo, absolutamente TUDO é sexo – depois escrevo sobre isso). Flores é sexo porque são fugazes (o ato), há amor-admiração à beleza, há vontade de seduzir, há explosão de amor e admiração (e me recuso a fazer um parênteses explicativo sobre isso)...

E o cacto? O cacto é mais raro. O cacto é duradouro e não é tão bonito. E talvez sua postura imponente represente um amor-concreto e não só de admiração. Cacto seria o amor de verdade: duradouro, não é tão bonito (pois, como já dizia o poeta, amor é dor) e é muito mais raro, justamente por não ser tão bonito e pelo medo da coisa duradoura que as pessoas têm.

Isso significa dizer que o Cacto tem direito de se sentir mais importante que as outras flores, por representar (ao menos para mim) o amor concreto que é o mais nobre sentimento. O cacto tem direito de ser imponente e ereto, porque, assim como o amor, ele é original sempre... E, por isso, Guilherme, querido, eu admiro sua originalidade... ;)

Outra coisa que eu queria dizer era a lógica de escrever tudo que me vem. Bom, é o seguinte: tudo o que eu escrevi até agora não teve revisão, não teve brainstorm, não teve planificação de texto. Foi meu, na essência. Eu não ganho nada com isso mesmo e tenho vontade de escrever porque me faz sentir mais livre. Além disso, escrevendo, conservo minhas memórias (às vezes os pensamentos são bons e me fogem porque não tenho uma caneta à mão) e eu sou vaidoooooosa pra chuchu. E é por isso que há uma lógica. Minha lógica. Minha vontade. Minha vontade de que minha vontade seja lógca... Cactos e flores...

Iiii, parei.

Boa noite!

=)