segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os Humores da Ostra (by Nati)

Ontem, após ouvir uma longa coleção de elogios sobre o seu último texto postado, a Ana justificou o seu sucesso com uma máxima que ultimamente tem sido bastante familiar ao nosso grupo: “ostras infelizes produzem pérolas”. A frase causou uma inquietação grande o suficiente para me levar a encontrar tempo para escrever esse texto. Saliento que essa metáfora das ostras já não me era novidade, porém, nas outras ocasiões em que ela fora invocada sempre assumiu o caráter de desculpa para não produzir nada de genial, mas nunca a sua versão oposta havia sido usada para justificar um sucesso.
A causa maior que me inquietou (e que continua a me inquietar) é o fato de eu não conseguir refutar a veracidade da teoria que existe por trás da metáfora das ostras. Durante um bom tempo da minha vida eu busquei o significado da palavra “arte”, uma parcela dessa busca foi motivada por uma equivocada escolha profissional (tema para um outro texto), outra parcela – talvez a maior – foi motivada por uma curiosidade bastante íntima. O resultado desse estudo me levou a uma aporia, a qual a minha pouca experiência intelectual não foi capaz de entender. Entretanto, restou-me uma impressão bastante pessoal de que o que define o caráter artístico de uma obra é justamente a emoção do artista no momento de sua criação. Atente para o fato de que eu não estou me referindo ao juízo de valor feito a partir de determinada obra de arte, eu estou apenas colocando o que, na minha opinião, difere o que é arte do que não é arte.
Creio que a essa altura você já tenha se convencido de que eu concordo com a teoria das ostras, portanto, agora vou explicar o motivo pelo qual essa verdade me incomoda.
Eu vivi durante mais de cinco anos espremendo sofrimento para produzir algo de “artístico”, buscava a “arte” nascida do esforço, do suor de da dor., eu queria aquele tom melancólico-poético dos artistas que criam obras fantásticas à sua própria revelia. Fui um fracasso. Atualmente, eu adotei uma nova concepção de vida, a qual me faz bastante feliz, porém, continuo a apreciar com especial preferência a arte dos infelizes. Logo, se eu me convencer facilmente de que a máxima “ostras felizes não fazem pérolas” conjuga uma verdade, então estarei admitindo que meu destino “artístico” está fadado às miçangas. Injustiça! É esta a fonte de tamanha inquietação perante a justificativa dada pela Ana. Talvez, a minha única saída seja esforçar-me para calcular friamente a medida da felicidade desta ostra aqui para, só então, atirar-me ao exercício de compor meus textos. Tento tomar como exemplo a disciplina de Stendhal apresentada em sua confissão:

“Esforço-me o máximo possível para ser seco. Quero impor silêncio ao meu coração, que acredita ter muito a dizer. Sempre temo só ter escrito um suspiro quando creio ter registrado uma verdade”.

O problema é que adaptar os humores da ostra, calcular a relevância de um texto e ponderar filosoficamente sobre as proposições abordadas é um tarefa extremamente chata !!! Portanto, peço licença aos leitores (todos eles: Ana e Ju) para informar que os meus textos são composições de suspiros e miçangas, e que ninguém espere pérolas dessa ostra aqui...

4 comentários:

Unknown disse...

P*... não é pra esperar pérolas... vc tava bem infeliz então, pq acabou de produzir uma!
Sabe, Nati.. eu acho essa história de ostras infelizes uma balela. Vcs sabem como eu estava feliz na semana passada, e, contrariando a natureza, produzi uma pérola (eu acredito que isso seja uma questão de ponto de vista...)
Seja uma ostra feliz e contrarie a natureza... faça pérolas. Mas lembre-se... elas só saem qdo a gente não espera que elas saim!! E não pense se vc está uma ostra feliz ou não... as pérolas devem sair sempre, independentemente do estado de espírito!
beijo.
parabéns.. seu texto é ótimo.
o q é a aporia msm?? hahahahah
beijo

ju disse...

melancólico e poético... uma verdadeira pérola

(Juliana Berger)

Gabriel disse...

Daria para fazer uma bela Musica! hehehehehehehehe

Sybille disse...

Nati,
voce eh uma ostra infeliz!
Rs. So estou enchendo...

Eu realmente acredito que os seres mais.. humm... "emocionalmente perturbados" foram e sao os mais artisticamente geniais desse planeta, mas isso de forma alguma impede que belas obras sejam produzidas por seres felizes!