quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aula de Filosofia (by Ju)

Eu adoro São Paulo. Sinto falta da minha prainha da Ilha do Boi e do Bully’s sucos, mas não se aprende o mesmo em Vitória e aqui.

As coisas em Sampa são mais rápidas, mais diferentes e só aqui se encontram determinadas figuras, frutos dessa coisa maluca que é a cidade grande, que fazem o dia, para quem os sabe ver, ficar bem interessante (lato sensu).

Bem, figuras como a minha professora de Filosofia do Direito, meio maluquete, meiga, que, ao tentar fazer-nos enxergar filosoficamente a atividade mais do que dinâmica que passara na sala de aula hoje, foi um pouco ridicularizada pela maioria...

A atividade consistia em ir lendo uma frase no quadro, escrita pausadamente pela professora, que dizia: “Um dia me movimentei de forma diferente, subi, desci às escadas, abri a janela e vi, também de forma diferente, o céu – do pensar, do observar, vi o mundo, filosofei. Um dia compreendi, achei a essência, filosofei.”

Essa frase era acompanhada de gestos da professora, músicas que falavam sobre os mendigos do Anhangabaú e sobre “voar, voar e enxergaaaaar”... Bom, no final da aula, como conclusão da coisa não “concluível” – e por isso a genialidade do método ao passar essa responsabilidade de conclusão para os alunos – a professora nos perguntou como faríamos para traduzir aquela aula em uma palavra. A maioria falou coisas bem subjetivas como: "mudança", "união", "transcendental", "interessante". Nada muito profundo, mas, exatamente por isso, a genialidade da professora, que disse: "a aula está aí!".

Óbvio que, sendo a chatonilda de galocha que sou, quis interpretar toda a aula - não direi filosoficamente (porque daí eu queria alcançar a essência mesmooo da coisa e seria muita pretensão minha), mas semanticamente (mais simples).

Voilá:

Tem uma música do Paulinho da Viola que diz “as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender”. E é exatamente isso. É exatamente o que voar, voar e enxergaaaaaaar significa: o mundo não existe se não o enxergamos. A vida não faz sentido se não vivermos. E para enxergar e viver plenamente é preciso refletir sobre as coisas. Ao se movimentar de maneira diferente, você sai do senso comum, porque este é superficial. Ver o céu do pensar deve ser libertador e é, por isso que o homem que saiu da caverna* tem medo: a liberdade dá medo. No geral, as pessoa não gostam de autonomia (se auto normatizar) porque isso requer responsabilidade e tremenda reflexão sobre as atitudes certas e erradas (e mais: o que são atitudes certas e erradas?). Achar a essência, portanto, seria filosofar, seria dar importância às coisas do mundo e não simplesmente passar por cima delas como simples coisas. As coisas são mais que coisas. As coisas são as coisas que NÓS achamos que são coisas. E isso é muito importante porque reflete também a nossa importância.

O mais impressionante, porém, é que, depois te ter concluído que o mundo está aí e só temos que enxergar, que a vida se resumiria a essa coisa subjetiva de analisar, refletir, buscar profunda compreensão sobre as coisas, que o azul não é azul se assim não o enxergamos (seríamos uma espécie de deusezinhos?), ao andar na paulista, me deparo com mais uma das figuras paulistanas. Dessa vez não era uma professora bonitinha com cara de Amelie Polan, mas sim uma mendiga maltrapilha e maltratada que berrava:

- é fácil brincar de Deus. Difícil é brincar de roleta russa. Eu não preciso desse sopro de vida...

Era louca. E me pergunto se assim ficou porque compreendera profundamente todas as coisas desse mundo...
Produto do sistema compreendido?

...

Só sei que rolava uma passeata dos estudantes-geração-sem-causa da USP e a ultra (no bom sentido) louca se perdeu na barulheira...


* Mito da Caverna, Platão

3 comentários:

Sarci disse...

E ai gata, tem um tempo pra eu te ler hoje mais tarde?

ju disse...

do cabeçalho ao rodapé?

Unknown disse...

difícil é brincar de roleta russa!!!
difícil é aguentar a fumaça na puc!!!

apesar de não compartilhar das mesmas idéias (eu sou uma futura advogada filha da puta), seu texto está excelente... e, como disse, qse me convenceu!!

beijoo